Uma relíquia da Corrida Espacial retorna ao planeta em meio a alertas sobre o lixo espacial.
Após mais de meio século orbitando silenciosamente a Terra, a antiga sonda soviética Cosmos 482, lançada em 1972 com o objetivo de explorar o planeta Vênus, finalmente reentrou na atmosfera terrestre e caiu no Oceano Índico. A confirmação foi feita recentemente pela agência espacial russa Roscosmos, marcando o fim de uma longa trajetória de uma das muitas relíquias esquecidas da era soviética da exploração espacial.
Missão Vênus: a ambição soviética nos anos 70
A Cosmos 482 foi projetada como parte do ambicioso programa soviético de exploração de Vênus. Seu objetivo era penetrar a espessa atmosfera do planeta, rica em dióxido de carbono, para realizar medições de temperatura, pressão e composição química da superfície. Essa missão seguia os passos da Venera 8, que, no mesmo ano, conseguiu pousar com sucesso em Vênus.
No entanto, um problema na separação da etapa superior do foguete impediu que a Cosmos 482 alcançasse a velocidade de escape da Terra. Assim, a sonda ficou presa em uma órbita elíptica ao redor do planeta, transformando-se em um dos muitos pedaços de lixo espacial que ainda circundam nosso mundo.
Reentrada atmosférica monitorada e queda no Oceano Índico.
Segundo a Roscosmos, o reingresso da Cosmos 482 foi monitorado pelo Sistema de Alerta de Situações Perigosas no Espaço Próximo à Terra. A queda ocorreu no Oceano Índico, embora a localização exata do impacto não tenha sido revelada. Como esperado, a maior parte da estrutura da sonda se desintegrou durante a reentrada atmosférica, sem causar danos à superfície.
Um marco tecnológico da década de 1970!
Apesar de não cumprir sua missão, a Cosmos 482 foi um feito tecnológico para a época. A cápsula de descida continha:
- Sensores de temperatura e pressão
- Espectrômetro de raios gama
- Analisador de gases
- Acelerômetro e radioaltímetro
- Transmissores de rádio
- Paraquedas de 2,5 m²
O módulo de descida era protegido por uma liga de titânio, capaz de resistir à reentrada na Terra — uma característica que gerou preocupações por décadas sobre a possibilidade de queda em áreas habitadas. Felizmente, isso não ocorreu.
O alerta do lixo espacial: precisamos agir?
A reentrada da Cosmos 482 reacende o debate sobre o lixo espacial, um problema crescente na órbita terrestre. Estima-se que mais de 30 mil objetos com mais de 10 cm estejam em órbita, muitos dos quais são remanescentes de missões antigas e que representam risco para satélites, estações espaciais e futuras missões tripuladas.
O astrofísico Jonathan McDowell, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, comentou sobre o caso:
“Apesar de ser um objeto antigo e inofensivo, a reentrada do Cosmos 482 é um lembrete de que precisamos de políticas internacionais mais firmes para lidar com o lixo espacial.”
O que poderíamos ter aprendido com a Cosmos 482?
Se tivesse cumprido seu destino, a Cosmos 482 teria fornecido dados complementares à série Venera, que revelou as condições extremas da superfície venusiana: temperaturas acima de 460 °C e pressão atmosférica 90 vezes maior que a da Terra.
Hoje, Vênus voltou ao radar científico com novas missões programadas, como a VERITAS (NASA) e a EnVision (ESA), que visam entender a história geológica do planeta e investigar se ele já teve condições para abrigar vida.
Um capítulo encerrado da exploração espacial
A queda da Cosmos 482 encerra um capítulo curioso da história espacial, lembrando-nos não apenas dos feitos do passado, mas também dos desafios atuais. A era das grandes missões soviéticas ainda ecoa em nosso céu — e, às vezes, literalmente retorna à Terra.
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